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sexta-feira, 9 de abril de 2010
Escândalos de pedofilia ameaçam Vaticano
Pedir desculpas pelas monstruosidades cometidas por seus representantes no passado e evitar que mais crianças sejam vitimadas, contudo, não tem sido suficiente para aplacar a revolta de muitos fiéis diante dos indícios de que o próprio Joseph Ratzinger, antes de se tornar papa, em mais de uma ocasião foi condescendente com padres pedófilos.
Duas revelações recentes reforçam essa suspeita. A primeira veio a público neste mês quando uma arquidiocese da região da Bavária, na Alemanha, suspendeu um padre que descumpriu a ordem de não trabalhar com crianças. O motivo da proibição: seu notório histórico de molestador. Em 1979, por exemplo, o padre Peter Hullerman embebedou um garoto de 11 anos e depois o obrigou a fazer sexo oral. Para abafar o escândalo, Hullerman foi transferido no ano seguinte para a arquidiocese de Munique, então comandada por ninguém menos que Joseph Ratzinger.
A suspeita de que Ratzinger participou diretamente na proteção de padres pedófilos e, portanto, deixou de evitar que outras crianças sofressem, se confirmada, dificilmente levará à renúncia do papa, como já pediram alguns teólogos alemães. Os defensores de Bento XVI lembram que outros papas sobreviveram a escândalos maiores. No século XV, por exemplo, o papa Alexandre VI não só se meteu em conspirações políticas como teve inúmeras amantes e filhos. Mas os tempos são outros, e o Vaticano está sendo pressionado, inclusive pelo governo alemão, a ser ao menos mais transparente em relação aos crimes cometidos sob a batina, tanto atualmente como no passado.
Entre 2001, quando o Vaticano adotou um novo protocolo para tratar internamente desses casos, e 2010, a Congregação para a Doutrina da Fé recebeu 3 000 denúncias de abusos sexuais contra padres. Apenas 10% deles foram punidos com a expulsão da Igreja e outros 10% saíram por iniciativa própria. Pode-se argumentar que o restante era inocente. O problema é que esses julgamentos são secretos e a Igreja não leva os suspeitos espontaneamente à Justiça comum. "Uma das razões pelas quais a Igreja insiste em não tornar esses casos públicos é financeira: o Vaticano é rico, mas não pode rasgar dinheiro, porque tem muitos compromissos a honrar mundo afora", disse a VEJA Brian Daley, professor de história do cristianismo da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.
O fim do celibato como uma maneira de diminuir os desvios comportamentais dos religiosos é uma discussão proibida na hierarquia católica. O celibato tem raízes profundas na história do catolicismo, e o Vaticano simplesmente se recusa a considerar seu fim, mesmo como hipótese. Entende-se. Espera-se, porém, que a Igreja passe a tratar a pedofilia de padres não apenas como um pecado contra Deus, mas como um grave crime contra a humanidade.