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terça-feira, 9 de março de 2010
Locomotiva - A Última Viagem
A estação de Santa Maria Madalena foi aberta ainda pela E. F. Barão de Araruama em 1890. Logo em seguida foi adquirida pela Leopoldina. A última viagem no ramal, com a locomotiva partindo da estação de Santa Maria Madalena, foi relatada nove anos depois do fim por um escritor local: "Lembro-me bem do derradeiro dia em que o trem deixou a estação. Com sonoro e melancólico toque do sino é dada a saída precisamente às 6 horas e 20 minutos. Muita gente lá estava para a despedida. Vagarosamente vai deslizando pelos trilhos até a curva da chácara do Américo Lima. Aí faz uma paradinha, ouvindo-se um agudo e angustioso apito, fazendo de conta como se fosse um adeus para sempre. E lá se foi pela estrada afora, deixando uma baforada de fumaça que pouco a pouco foi desaparecendo. O carro misto de 1a e 2a classe estava todo ornamentado de hortênsias azuis e rosas, repleto de passageiros. Por onde ele passou, Loreti, Trajano de Moraes, Leitão da Cunha, o trecho da serra, vendo-se lá embaixo o rio Triunfo e o Conceição, as manifestações de despedida foram as mais sentidas e expressivas, sendo que na de Conceição de Macabu havia uma banda de música que executou, na partida, a melodia Valsa da Despedida, tendo o padre local usado da palavra, o que fez muita gente chorar. O ponto do almoço, em Conceição, onde na mesa não faltava a boa carne de porco, a galinha, a couve picadinha, o torresmo, o tutu com carne seca desfiada, etc., e o custo era apenas de dois mil réis. Depois vinha Paciência e finalmente Conde de Araruama, local em que se fazia a baldeação para Campos, Niterói ou Rio. Esse trem, verdadeiro calhambeque, ajustado num amontoado de peças usadas e quase imprestáveis, e muitas vezes, nos trechos de subida, os passageiros tinham de saltar para que o peso diminuísse. Os dormentes, já podres, cediam com a passagem da máquina, ocasionando descarrilamentos. Com alavancas, depois de estafante e penosa operação, a máquina era colocada novamente sobre os trilhos. Em dias chuvosos, abria-se o guarda-chuva dentro do vagão e quando havia boi ou cavalo na linha, o trem gingava e apitava até que o animal saísse da linha. Quando um passageiro se atrasava para o embarque, esperava-se o amigo, que, se não tivesse dinheiro para a passagem, não tinha importância, pagaria na volta. Mas, apesar dos pesares, esse trenzinho que carregava a gente, todo bamboleante e desengonçado, aos trancos e solavancos, chegava sempre ao seu destino e ninguém reclamava, achando até tudo muito bom. E era" (Octavio Fajardo Rodrigues, 1975). O trem alavancou o desenvolvimento de Santa Maria Madalena, mas com o decreto 58.992/66 (Programa de Erradicação de Ramais Antieconômicos) o ramal foi fechado, o trecho de Santa Maria Madalena em 1965. O mesmo decreto previa a construção de uma rodovia asfaltada para substituir o trem, mas, como não foi cumprida esta parte, o processo de desagregação sócio-econômica do município se agravou. Apenas no final dos anos 1970 foi asfaltada a estrada que ligaria a cidade a Nova Friburgo. "A estação hoje abriga a Casa da Cultura, um museu e uma biblioteca. A casa do chefe da estação foi também reformada e funciona como hotel". (Ricardo Quinteiro de Mattos, julho de 2008).